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quinta-feira, junho 19, 2008

Alma


O argentino, Jorge Luis Borges, afirma que a essência da metafísica é o assombro, o phatos originário da filosofia, quiçá do humano. Sob a licença de tal definição, permito-me uma confissão, literal e poeticamente, assombrada. Sinceramente não creio ser possuidor de uma alma, uma centelha divina e eterna, encarcerada ou simplesmente submetida à precariedade da morada corpórea. Porém, estou certo de que há em nós um sopro, imanente, intenso, emanado de nossas entranhas, tão nosso que não pode, senão, constituir-se a própria transcenência. Quando esse hálito quente cessa tornamo-nos menos do que fantasmas. Perambulamos conscientes de nossa indiginidade, todavia impotentes. Pairamos no ar diferentemente da folha reclamada pelo vento, pois esta fastia-se na queda, enamorada pela última valsa nos ares. Até os mortos que dançam regozijam-se com a humana tragédia do fim, experimentando a vida já indiferente aos recalques e pudores. Em meio à turba em transe, vertiginada pela indistinção, caminhei solitário e consciente, incapaz de respirar e mesmo assim inutilmente vivo. Não há perdão que possa em alcançar agora...