tag:blogger.com,1999:blog-386912182024-02-07T06:51:26.807-08:00Embriagai-vos!"É preciso estar sempre embriagado. Para não sentirem o fardo incrível do tempo, que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso. Com quê? Com vinho, poesia, ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se."
Charles BaudelaireProf. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.comBlogger34125tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-3108933784664630442012-07-10T10:27:00.000-07:002012-07-10T10:27:33.621-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjVL1bPhKY8L_tX7N5lVN9BZROWruJ8pXJ4dV40_1QKCoEd3GTN5IKQUCK3tjgMKyp_KSnFT8hhRPNanQjtUehtl34DMotzDfMorc4v7JbwopwLZFkfzm0AyfzvPOFJ_YhIuAo/s1600/nudez-azul-pablo-picasso-12.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjVL1bPhKY8L_tX7N5lVN9BZROWruJ8pXJ4dV40_1QKCoEd3GTN5IKQUCK3tjgMKyp_KSnFT8hhRPNanQjtUehtl34DMotzDfMorc4v7JbwopwLZFkfzm0AyfzvPOFJ_YhIuAo/s320/nudez-azul-pablo-picasso-12.jpg" width="211" /></a></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha nudez não está desnuda. Tenho eras de poeira ocultando cada parte de mim. A pele está quebradiça como o solo árido do sertão. A mera insinuação de um o toque a exaspera como a promessa do orvalho que jamais se cumpre flagela a alma do retirante. Meus olhos estão lacrados uma penumbra vil. Diviso apenas pequenas mechas de luz em meio a uma imensidão sem tom e sem forma. Não contemplo senão o mesmo semblante desbotado do mundo todos os dias. Meu lábios estão sepultados por camadas infindas de folhas secas, depositadas alí por um outono incessante e inclemente, que impõe morte sobre morte. Os sons são como repetições amordaçadas de notas distantes, tessituras grotescas e inclementes como de uam voz que há muito se calou... Mas qual é o mal disso? Não desejo as alturas iluminadas por preces. Abomino a ordem martelada da moral tacanha de sempre. Pertenço à terra, ao pó, ao caos, à dúvida... Quando de fato conseguir assumir isso me sentirei desnudo de tudo.</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-20909679772264975042011-07-23T16:23:00.000-07:002011-07-23T16:23:09.704-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRSCvdZkJG9tujEG6mvhWG1i-eIfH-tytTKLhjbmvtApxnaxP7MLUnUlSnfegHFlAGG00O7xL7gV0FDaPt0DI0tbkDFBrz1UWyss8-QdONwZh7ne1nq-f2WzAlHi-H29hwz4gQ/s1600/EscherEye.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRSCvdZkJG9tujEG6mvhWG1i-eIfH-tytTKLhjbmvtApxnaxP7MLUnUlSnfegHFlAGG00O7xL7gV0FDaPt0DI0tbkDFBrz1UWyss8-QdONwZh7ne1nq-f2WzAlHi-H29hwz4gQ/s320/EscherEye.jpg" t$="true" width="320" /></a></div><div align="justify" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><br />
</div><div align="justify">Preciso reclamar da falta de tempo. Necessito chegar em casa tão cansado que mal posso articular uma idéia remotamente pessoal. Quero, como um viciado, a vertingem da burrice alheia, a indiferença dos fones de ouvido, o deboche daqueles que são eternos. Estou nas paredes. No véu opaco desta noite. Em todo lugar meu ser se abre em tantas portas que não consigo fechá-las. Estou exposto diante de mim. Miseravelmente desnudo. Manchas, pêlos, imperfeições, cicatrizes. Já não suporto me ver. Estou num abismo de espelhos. Minha alma multiplicada, adensada, um pesadelo de Escher. Cerro os olhos, mas as imagens procriam ao infinito. Corro e esbarro em mim. Silencio e me vejo tão próximo, meu hálito contaminando meu hálito. Busco outro ser e toco o vácuo. Sem luz. Apenas eu. Sem barreiras ou fronteiras. Estou em estado bruto e mesmo assim não consigo deixar de estar acompanhado...</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-29594175480816323432011-07-22T15:38:00.000-07:002011-07-22T15:38:54.555-07:00<div align="justify"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt-ivvdCDXHq9USD-s9fkzO5AFm4xJxJvJf5HEMy9n-psuk55fp28fwNx6OnZ9b4GZc1s3XM37iIwhIRroh7p0WYjJ7W_lNe41Oj8kHiPImdCX472XiT61WuuZUVS1py-qmn-k/s1600/22964.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt-ivvdCDXHq9USD-s9fkzO5AFm4xJxJvJf5HEMy9n-psuk55fp28fwNx6OnZ9b4GZc1s3XM37iIwhIRroh7p0WYjJ7W_lNe41Oj8kHiPImdCX472XiT61WuuZUVS1py-qmn-k/s320/22964.jpg" t$="true" width="209" /></a></div>Acabou. O dia findou. A garrafa está deitada sobre a mesa sem que nehuma gota caia, sem que nem mesmo um odor nauseabundo exale. O vento se acalmou lá fora. Atémmesmo a brisa tímida não está lá para falsear vida nas folhas mortas condenadas ao chão. O âmbar dos faróis vem e vão na sincrônica procissão do retorno ao lar. Silêncio. Sem versos. Não consigo crer neles. Não os encontro também. O que os torna dispensáveis, assim como qualquer princípio divino do qual só podemos usufruir quando seus desígnios se encaixam e não quando precisamos dele, o que o torna, tal qual meus versos enfadonhos, não só inútil como sádico. Essa quietude exaspera. Talvez a atmosfera frenética da noite; o tintilar dos copos suplicando mais uma rodada de torpor; o perfume rescendendo na roupa impecável, especialmente escolhida para ocultar misérias... Contaremos história, as mesmas, recorrendo para não habitar o presente. Daremos gargalhadas largas, incontidas ou desdenharemos dos que sorriem ao nosso redor, cada qual tentando imputar aos outros a própria ridicularidade. Talvez tudo mude. Certamente talvez</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-21478639325167367242011-07-16T16:07:00.000-07:002011-07-16T16:07:50.835-07:00<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCfemuVs0qnbew8_85ULxYEyB7SMr3DRlGy5avAgtnB2LqG7pSlRqYSNt7YoLSpIIB8cVScWJutVgaBCKdwwCLga0VDkDdGCgx9_HKpTLl5JAxDSeNRcI_81vDhmlbW5p_kAwg/s1600/gustav_klimt_sea_serpents_iv.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" m$="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCfemuVs0qnbew8_85ULxYEyB7SMr3DRlGy5avAgtnB2LqG7pSlRqYSNt7YoLSpIIB8cVScWJutVgaBCKdwwCLga0VDkDdGCgx9_HKpTLl5JAxDSeNRcI_81vDhmlbW5p_kAwg/s320/gustav_klimt_sea_serpents_iv.jpg" width="157" /></a></div><br />
Descanse, ó mente, descanse...<br />
Que os pensamentos se apartem de ti esta noite.<br />
Deixa o corpo reinar sobre nós.<br />
Permita que pele se incedeie,<br />
Crepitando em cinzas qualquer idéia ou memória.<br />
<br />
Adormeça, ó mente, adormeça...<br />
Repouse teus desesperos,<br />
Silencie tua razão.<br />
Como luz, agora te calarás.<br />
Serás inundada do frescor da pele ébria de suor<br />
<br />
Apazigue-se, ó mente, apazigue-se...<br />
Teus meandros tornar-se-ão alcovas.<br />
De tuas leis escarneceremos.<br />
Se não podes, apenas ignore.<br />
O desejo só requer teu silêncio para desabrochar.<br />
<br />
Sonhe, ó mente, sonhe...<br />
Acordados estão meus olhos.<br />
Contemplarei os becos com as pontas dos dedos.<br />
Cada corpo incauto enxergarei na língua,<br />
E meu torso lerá tecido e carne que o tocar.<br />
<br />
Mergulhe, ó mente, mergulhe...<br />
Segure teu fôlego e não ouses voltar.<br />
Fica-te em segredo em algum canto embrumado.<br />
Se pareceres afogar, aquieta-te.<br />
Terás a eternidade para vingar-te de mim.Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-90803360912705345262011-07-15T20:11:00.000-07:002011-07-15T20:37:40.700-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisnd8gJmsTl9Cywn2K0QYCELL1ENxoMDGpSftBoQOnCdRTB9KLFdOaF_OaGK3Ma6AV9jJ6rp5nigsG1HxOzmCmtY_04CDlUsLD59XyFrm7bxwlnKnmq1wxl2zRGsfUt9aQvef-/s1600/pollock_number-8.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 321px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5629789207319497474" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisnd8gJmsTl9Cywn2K0QYCELL1ENxoMDGpSftBoQOnCdRTB9KLFdOaF_OaGK3Ma6AV9jJ6rp5nigsG1HxOzmCmtY_04CDlUsLD59XyFrm7bxwlnKnmq1wxl2zRGsfUt9aQvef-/s400/pollock_number-8.jpg" /></a> <br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Ame-se. Queira-se. Possua-se. As pessoas repetem essas frases como mantras. Ouvi que deveria gostar mais de mim. Estou pensando no significado desse conselho. Regurgitando essas máximas contemporâneas. Tentando vestí-las, usá-las, sê-las. Imaginei-me enamorado de mim. Convicto de minha singularidade radiante. Auto-suficiente, um sol diante do qual tudo se curva e suplica luz. Contemplei-me ignorando os desatinos e as manias do caos. Imune aos outros. Prenhe de mim. Não suporto isso. Em meus exílios de cotidiano me vejo só e minha companhia não me basta, embora procure demonstrar o contrário. Já perdi a conta das vezes em que deixei-me em outras mãos. Alguns bocados ali. Outros pequenos pedaços acolá. Em certas mãos estou quase que inteiro, restando-me a tentiva ébria de me equilibrar nessa pequena porção diminuta de eu que me restou. Angustiante. Porém, humano. Quem somos senão metades, ínfimas partes exasperadas em busca de plenitude? Pouco nos pertencemos. Talvez a maior doença dos nossos dias seja o sentido de que somos propriedade privadas de nós mesmos. Que nos basta uma manta para reter nossa própria quentura e não um outro alguém que nos roube a supremacia sobre o território da cama. Cada dia mais desconfio do egoísmo simplória, da condenação à solidão do indivíduo, prisioneiro de si, cujo exterior é sempre espelho. Quem sabe estou amolecendo e quase margeio a espiritualidade dos "escravos" de novo, esses serem tão habituados à solidão de um Deus que os largou no deserto. Ou quem sabe redescubro a vida e faço daqui um ensaio enquanto não perco o medo de me amar menos. </div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-33458307483769436752011-07-14T20:52:00.000-07:002011-07-14T21:06:08.712-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF7kOUOroqrwmLt-PxI66y-bX4042HnzIEMQ2yxkchAWpo1-P83kvYm9l_C3cUytT6tub-mGM6JM8EfDryKX1uhKWEMepw7w-J6PZeIrQlIeij96bfENAQn7t3rZegC-zQElFj/s1600/Marc+Chagall.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 350px; DISPLAY: block; HEIGHT: 356px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5629425143784882498" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF7kOUOroqrwmLt-PxI66y-bX4042HnzIEMQ2yxkchAWpo1-P83kvYm9l_C3cUytT6tub-mGM6JM8EfDryKX1uhKWEMepw7w-J6PZeIrQlIeij96bfENAQn7t3rZegC-zQElFj/s400/Marc+Chagall.jpg" /></a> <br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">A noite requer uma última palavra. Não posso embalar seu sono. Não verei seus olhos se cerrarem e não poderei sussurrar sonhos bons em seus ouvidos. Não poderei brincar com a direção de seus cabelos, tampouco aninhar-me neles. Não me será permitido cobrir seus pés que teimosos escapam das cobertas e cujos dedos tateiam trêmulos e sorrateiros o frio da madrugada. Não posso roubar seu calor e dar-lhe em troca o meu. Não traçarei novas rotas em sua pele conduzindo de leve seus medos sobre a superfície perfumada de seu corpo. Não ouriçarei a penugem sutil que lhe recobre a nuca. Não poderei tomar para mim o pesadelo que lhe constrange as feições, sonhá-lo e devolvê-lo cândido a você. Não consigo lhe oferecer minha cantiga feita beijo em seu rosto reclinado sobre o dorso de Morfeu. Não lhe apresentarei o dia que nascerá sobre nós. Você despertará ao longe e eu adormecerei nessa ausência cheia de você mais uma vez...</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-11128881805359096692011-07-14T08:06:00.000-07:002011-07-14T08:30:18.015-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3aam7MQJLNaN67yAHPGNZI4WHxzrgBx3nYRaYcYNxbAK6d9fMurQY8V1GYUl9LE7-iWjgdhdl8LPa8cdJcOTJOfvFWQSfVnhmLYZtKUVEbuRAnR7pyx5RTXEKqt1yDtJESh41/s1600/munch-grito.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 325px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5629227792793179186" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3aam7MQJLNaN67yAHPGNZI4WHxzrgBx3nYRaYcYNxbAK6d9fMurQY8V1GYUl9LE7-iWjgdhdl8LPa8cdJcOTJOfvFWQSfVnhmLYZtKUVEbuRAnR7pyx5RTXEKqt1yDtJESh41/s400/munch-grito.jpg" /></a><br /><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Tenho vontade gritar. Algo há muito sufocado em mim que cresce como um câncer que, por mais que me esforce. não consigo deixar de alimentar. Queria ferir minha garganta, rasgar cada ínfimo pedaço da rosácea morada na qual esse sentimento se aninhou. Temo destruir a mim mesmo caso o faça, pois de tão profundo já não reconheço senão através desse <em>pathos</em>. Mas não o faço. Como qualquer humano, não desejo deixar de ser ao mesmo tempo em que o mais quero é ser outro que não eu mesmo. Se eu pudesse ao menos gritar. Sei que nem mesmo a mais mísera e enferma folha caíria; o curso de uma breve gotícula de chuva não mudaria seu trajeto inevitável; as distâncias se manteriam intactas e o motivo desse meu berro contido com a paga de séculos de mim ainda se manteria indiferente... Ao final consigo perceber melhor. A escrita não deixa de ser uma catarse - em termos filosóficos, ao modo aristotélico. Há sempre uma revelação intrasigente e incômoda que nos lembre que até mesmo o mais pequeno dos textos está fadado ao infinito, a se projetar como além, como longínquo, como devir constante. Todo texto é infindo e eterno. Nele nos multiplicamos e nos percebemos como somos: fogo que crepita e cujo existir exige o findar. Vejo agora que é a ausência de fúria em meu grito empedernido que me dói acima de tudo. O desejo de destruição, de guerra, de mágoa em estágio de transmutação em ira. Acho que falte o ímpeto de rasgar retratos, estilhaçar cristais, esfoliar a pele até que nasça uma nova, virginal, incólume aos amores e desamores que se foram... Talvez me falta a capacidade do auto-engano, o ofício do ator que é quando se disfarça a ponto de esquecer que seu rosto é máscara.</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-25922119679396463802011-07-10T14:10:00.000-07:002011-07-10T19:57:46.725-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRmlAxRwbmkdB47seXB3ARVdN4RjfKsMVK9gzRNhyphenhyphenBWCdaeUXBHwVjlCeOZ-bFAufzlVnE6IRWf4_dH1ZoYA5i4MejgBHBb9r3TUavDkhdGmkm8JxuLz0FYuSHXN0HYbhNW-hO/s1600/kandinsky_black-spot-I.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 300px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5627923509558872562" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRmlAxRwbmkdB47seXB3ARVdN4RjfKsMVK9gzRNhyphenhyphenBWCdaeUXBHwVjlCeOZ-bFAufzlVnE6IRWf4_dH1ZoYA5i4MejgBHBb9r3TUavDkhdGmkm8JxuLz0FYuSHXN0HYbhNW-hO/s400/kandinsky_black-spot-I.jpg" /></a> <br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">A noite se adensa lá fora. Os últimos vestígios da tarde se esvaem e o céu se cobre de uma suave renda negra salpicada de vazios luminosos. O vento silva na janela carregado de tinta e de asfalto. Há névoa. Quase nenhuma, uma parede diáfana entre mim e o mundo lá fora. Aqui, poesia barata, rasteira, mais necessidade do que arte, se é que esta não é outra coisa senão necessidade em seu estado mais puro, ou seja, sobrevivência. Ninguém contempla e exibe a própria pequenez à toa - na verdade iria escrever mediocridade, mas fui acometido por um estranho senso de amor-próprio, muito raro nesses dias devo admitir. Tento em vão preencher a mente com alguma pretensão grandiosa: livros, prazer desmedido e livre de ressacas morais, dominação do universo, felicidade... Vãs. Pretendo soar altivo a mim mesmo. Elenco conquistas. Zombo de memórias. Celebro minha superioridade de alcova, mérito da estupidez generalizada que grassa atualmente. Quero pegar algum livro inconcluso. Ou recorrer aos remédios de sempre. Ao final apenas durmo, rezando para não sonhar de novo o mesmo sonho requentado no qual minha realidade parou, cujo momento conheço com uma matemática malsã</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-11817082258806541842011-07-05T16:05:00.000-07:002011-07-05T16:25:07.567-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNS3BkiBSyPti9kMjNZrCEgtP0SmFtLnH27fa_GzGa3CodOgdeWmav91g-77oJx5DH-fXwSnGcCT6yCwZq3DKZ3tLFz7xxdbDYee2gX2uxsYuHIL-kNQEr6uvVC633KiG-JWnx/s1600/salvador_dali.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 300px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5626013273180055538" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNS3BkiBSyPti9kMjNZrCEgtP0SmFtLnH27fa_GzGa3CodOgdeWmav91g-77oJx5DH-fXwSnGcCT6yCwZq3DKZ3tLFz7xxdbDYee2gX2uxsYuHIL-kNQEr6uvVC633KiG-JWnx/s400/salvador_dali.jpg" /></a><br /><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">O tempo é algo estranho. Habitamos seus meandros e somos habitados por ele. Às vezes parasitamos em suas entranhas e só fazemos acompanhá-lo. Somos digeridos por ele, lenta e constantemente. O sentimos escorrer quando ousamos enfrentá-lo, e o contemplamos esvair quando dele precisamos. Relativo e indócil, é momento, oportunidade e hora. Princípio e fim. Fora dele só subsiste o inexistente. Nós somos nele. A memória que o desafia é sua vingança silenciosa, o selo indelével de sua eternidade, cravado em nós como sentença de nossa finitude. Eis a essência de nossa condição: nós, passageiros, existimos no âmago do interminável; nós, efêmeros, invejamos nosso senhor e cobiçamos sua morada. Incansáveis, como toda a presa o é ante o inevitável abraço do fim, inventamos engodos para domar o tempo: ciência, escrita, imagem, amor... mas todos padecem e, cedo ou tarde, nos impõem o desespero de nossa arrogante recusa à transitoriedade...</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-46739655003041855972011-04-16T15:12:00.001-07:002011-04-16T15:42:55.957-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqeOMgP4GYP4Qh-cLrnlRoTbJ9afzqTv3zyTHEGZzeIIli73h3JjJ96cLXlvquhbQ-MR7xt9yGWpc8bb0m-tWQGDSvgPy4-3TuP4Jd6C45kVqyCb0nOeb1wKMnU-2eNxu1P33O/s1600/munch15.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 329px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5596315601234750978" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqeOMgP4GYP4Qh-cLrnlRoTbJ9afzqTv3zyTHEGZzeIIli73h3JjJ96cLXlvquhbQ-MR7xt9yGWpc8bb0m-tWQGDSvgPy4-3TuP4Jd6C45kVqyCb0nOeb1wKMnU-2eNxu1P33O/s400/munch15.jpg" /></a> <br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Medo. Há diversos tipos deles. Alguns nos sobressalteiam, nos supreendem quando flanamos tranquilos pelo dia ou simplesmente visitamos a nós mesmos. Outros estão lá a título de charme. Afinal, cai bem aos olhos dos outros algumas fragilidades bem pesadas, medidas, calculadas. Devemos cuidar, todavia, para nos exagerarmos na dose. Gente muito quebradiça espanta companhia. Alguns são tão intensos que preferimos nos lhes fitar os olhos e, ainda bem, costumam ser raros o bastante para que sobrevivamos a eles. Cada qual é importante. Ao seu modo torto nos revelam a necessidade de cautela e, ao mesmo tempo, nos ensinam a árdua arte da ousadia, sem a qual estamos condenados ao eterno papel de rascunhos de nós mesmos. Contudo, há uma modalidade de medo que urge ser debelada. Contra a qual nenhum otimismo ou reflexão é útil, sequer para atenuar sua moléstia por meio da racionalização. O problema é que esse tipo de pavor possui raízes tão fundas que, quando tentamos arrancá-lo, vemos aflorar sujo de sangue e de memória nosso próprio espírito, sofrendo ao tentar tirar de si aquela substância estranha que tempo e a freqüência trataram de fundir a ele. O tipo de medo do qual falo é aquele que se torna parte integrante de nós. Cuja presença não repousa. Cujo odor jamais desimpregna a nossa pele. O fizemos nós. O acariciamos forçados a cada manhã como o desanamorado beija a lápide que habita o outro hemisfério de sua cama. É preciso, antes de tudo, dizer-lhe o nome, conhecê-lo... e cada qual deverá nomear o seu. </div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-78390509011452479692011-01-18T14:31:00.000-08:002011-07-05T14:38:39.156-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivVHbL58GdEI_Vx85VoFsjR3DOWKQkQpOsd46qYQ4fEFbHgIh7hOo0hUIL1r6WTaDZqaSOwj3d_zE-vsvykliFrEJtu87PqWYMVZpTGDh_1lt3NzxS6L5OUSchLxcjGRbxulB7/s1600/Rene-Magritte-Os-amantes.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 292px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625985832255241010" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivVHbL58GdEI_Vx85VoFsjR3DOWKQkQpOsd46qYQ4fEFbHgIh7hOo0hUIL1r6WTaDZqaSOwj3d_zE-vsvykliFrEJtu87PqWYMVZpTGDh_1lt3NzxS6L5OUSchLxcjGRbxulB7/s400/Rene-Magritte-Os-amantes.jpg" /></a> <br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Existe uma estranha sedução na dor. Charme, rebuscamento, a quase arrebatadora visão de uma face entre a lágrima e o êxtase, a fitar um copo em cujas entranhas o âmbar, quiçá o escarlate, rodopiam caudalosos, ora deixando desnuda as profundezas de vidro no qual foram vertidos, ora cambaleando compassado em suas bordas, no limite entre o malabarismo e o vazio, com aquele equilíbrio misterioso que somente os ébrios conhecem e que lhes permite margear o abismo sem serem tragados de todo por ele. Sofrer é condição para ser humano. Persistir na dor é uma escolha inevitável, uma vez que abandoná-la pode significar assumir a solidão. Às vezes é melhor sangrar na turba. Tombar no campo onde jazem outros. Encontrar solidariedade tácita dos que perambulam na noite, por entre as calçadas, sob a luzes exasperadas de música e de desespero. É asustador olhar com cuidado para os que estão a nossa volta. Sobretudo para nós que estamos ávidos por esses mesmos olhares em nós, embora não estejamos dispostos a ofertá-los aos demais, o que nos lança no inescapável inferno da indiferença. Nos recusamos uns os outros e nos buscamos já condenados a fracassar. A dor ainda é refúgio confortável diante disso tudo. </div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-80597369848953158612010-09-05T11:48:00.001-07:002011-07-05T14:55:19.421-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8oMQlZLn2ghthtQ3cYCrMGhyTMo-RDa4WRsaprYJMvQ5mX2N7kN73K0mI1RIsRdKywi6HzzQFuUHBjUw1ajHII4cf9kD1GzWarjqtP09mCiOMOvzhK3fbtQD5bxL96dsbGhom/s1600/the-kiss-ii-gustav-klimt21.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 319px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625990154287825154" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8oMQlZLn2ghthtQ3cYCrMGhyTMo-RDa4WRsaprYJMvQ5mX2N7kN73K0mI1RIsRdKywi6HzzQFuUHBjUw1ajHII4cf9kD1GzWarjqtP09mCiOMOvzhK3fbtQD5bxL96dsbGhom/s400/the-kiss-ii-gustav-klimt21.jpg" /></a> <br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Tudo o que vivi me constitui, ocupa espaço, é parte de mim. Contudo, interesso-me cada vez menos com o que tenho e miro o que ainda me falta. O que sou não me importa tanto, o que posso me tornar, sim. E não falo isso como quem carece de exorcizar o passado e precisa desesperadamente da ilusão de um vindouro feliz. Gostaria de me assemelhar ao nômade ao qual só interessam os horizontes, cujos olhos se ressecam quando forçados a amar o mundo emoldurado por alguma janela diminuta. Sem lonjuras a vida se ressente, se apequena, mesmo que o distante seja apenas uma ilusão como a lua, as estrelas, a verdade ou o amor, como já nos dissera Camus. Pergunto-me quais distâncias restaram em mim e me entristeço quando as vejo tão próximas, decrépitas e como temo aquelas que ainda se preservam intactas, mesmo que outrora fossem tão próximas...</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-6159207426496662932010-07-15T09:23:00.000-07:002010-07-15T09:59:08.445-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpyWR-s5UXJ0zZqgleCNq0JeVzIc0QaCaGrhRJ9MAlPcT2MeGwYnKHDCThOPfBYMOa6KQ7m01NxC5FQkZ8ZTkOqp1cWr6JBIw9xIMLUzgku6RXnl9j2YXfzC_KzD5dNstSOMmQ/s1600/40baptis.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 289px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5494176068063489298" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpyWR-s5UXJ0zZqgleCNq0JeVzIc0QaCaGrhRJ9MAlPcT2MeGwYnKHDCThOPfBYMOa6KQ7m01NxC5FQkZ8ZTkOqp1cWr6JBIw9xIMLUzgku6RXnl9j2YXfzC_KzD5dNstSOMmQ/s400/40baptis.jpg" /></a><br /><div><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt"><span style="font-size:0;"><span style="font-size:100%;"></span></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt">Desespero. O verdadeiro medo possui uma característica aterradora. Solapa todas as nossas preciosas ignorâncias e estabelece a mais cruel percepção de nós mesmos. A mãe de todos os tipos de consciência, aquela que está para além das mentiras que contamos para suportar nossos fracassos cotidianos; que zomba dos edifícios metafísicos que criam fachadas de eternidade ante o fim iminente que se avizinha a cada piscar de olhos; que escarneia da autoestima de alcova, aquela que forjamos ante o espelho embaçado de cada manhã e que mantemos intacta graças aos adágios e elogios de gaveta que nos lançam por aí. O desespero impõe a visão lúcida acerca de si mesmo, sem subterfúgios, sem deuses. Sozinhos ante o que de fato somos. Obrigados a nos olhar, desnudos de razão, poesia e luxúria. O nosso corpo em sua profusão de defeitos despejado sobre nós, como um amante inoportuno que ousou permanecer ao nosso lado mesmo tendo passado a embriaguez. Cada sulco indesejado. Cada cicatriz que deixou de esculpir memória em nossa pele. Cada pedaço exasperado de saudade pelo toque que já se foi, mas que permanece ali sob a triste forma de um arrepio póstumo. Membro amputado, fantasma que está não-estando. Desespero, somente desespero...</p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt"></p></div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-41604536637038168512010-05-15T19:16:00.000-07:002010-05-15T19:37:48.270-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHvw1iGeTwr0eWLf8dpTHKjFpfNYW724vhBpOKZlgz3zCe2PH8PerIBSoNcC7ETJ_Y5fXMupyuVrqCXPjBpDwIITjFcSpgEHBX1nacroCK_E_tqUhuZpxiEbNeUS11gGYxlkIS/s1600/untitled.bmp"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 323px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5471690558612401938" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHvw1iGeTwr0eWLf8dpTHKjFpfNYW724vhBpOKZlgz3zCe2PH8PerIBSoNcC7ETJ_Y5fXMupyuVrqCXPjBpDwIITjFcSpgEHBX1nacroCK_E_tqUhuZpxiEbNeUS11gGYxlkIS/s400/untitled.bmp" /></a><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Não quero sentir. Não quero falar. Não quero escrever. Por um breve momento gostaria de não ser. Desaparecer como idéia fugidia, esse tipo que nos assola de repente e desaparece quando queremos guardá-la, retê-la em forma de memória ou de conhecimento. Não quero imaginar que não mais repousarei minha solidão em seus ombros acolhedores; que o dia encontrará seu ocaso sem que eu conheça o destino do seus sonhos e o peso de suas labutas. Não quero conceber que não me vestirei mais com a mesma indecisão, receoso em parecer suficiente agradável para ainda merecer seus olhares. Não quero ter a consciência de que a metade do meu olhar agora está opaca e meus horizontes desabitados. Não quero que conheças minha dor, pois ela me constrange a ponto de exigir de mim a sua eternidade...</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-19370749267227616232010-01-05T16:24:00.001-08:002010-01-05T16:52:05.367-08:00Apatia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUdJg8ZPyGHXrnAXRqXwGukroRTTJ5oNzXCnWE2Hb-c0LWnd-MIQhRGFilmjwIjGqlk8ydbEdYcc7-et7SVipLLT-EtO8rBhyphenhyphenrtY_5XqbV40cmWWR1SR6JVCAylnCt-YKSW3ES/s1600-h/munch_between-clock-and-bed%2520self-portrait.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 323px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5423423172170488386" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUdJg8ZPyGHXrnAXRqXwGukroRTTJ5oNzXCnWE2Hb-c0LWnd-MIQhRGFilmjwIjGqlk8ydbEdYcc7-et7SVipLLT-EtO8rBhyphenhyphenrtY_5XqbV40cmWWR1SR6JVCAylnCt-YKSW3ES/s400/munch_between-clock-and-bed%2520self-portrait.jpg" /></a><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Registro. Palavras frias. Escrever tornou-se burocracia. Não o ritual do qual depende a vida. Esta foi esquecida em algum livro antigo, mal lido, cujas páginas foram aprsionados sobre o peso outros escritos, encarcerando os demônios que à apatia quiseram devorar. Em noites como essas percebo as garras macilentas buscando a tenra e delicada pele de minhas ambições, a fim de dilacerá-las, prová-las, forçá-las a ser ao invés de permanecerem como incólumes ideais. Às vezes tento-me a lhes dar espaço e deixo cair, dois, três, quatro livros, em noites desesperadas desfaço-me de todos, mantendo apenas a palma vacilante de minha mão para o grande livre não se abra. E diviso olhos que já foram meus suplicando-me de volta. Rapidamente, atormentado, trôpego de medo e de desejo, lanço-o ainda mais profundo, acumulo ainda mais peso obre ele. E fico com essa imagem desgastada e burocrática de mim mesmo. </div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-40781521167971997082009-01-02T13:29:00.000-08:002009-01-02T13:47:38.436-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFOGZ9V2XkuGZ2vKJWeHvqNjvC818hMlj_AqgE-G7AKWoLGBqSZPqyOa_pjwZpbpzpNK24N7SMkUBqm4LYuVmNZTL7aKTmrNzGaRyHRNVPuIlLQ8Dve8BnGPpLZ4iOdcwhEk05/s1600-h/Balthus_Nu_avec_chat_(1949).jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5286816001080922418" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 322px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFOGZ9V2XkuGZ2vKJWeHvqNjvC818hMlj_AqgE-G7AKWoLGBqSZPqyOa_pjwZpbpzpNK24N7SMkUBqm4LYuVmNZTL7aKTmrNzGaRyHRNVPuIlLQ8Dve8BnGPpLZ4iOdcwhEk05/s400/Balthus_Nu_avec_chat_(1949).jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Emprestei palavras de outrem por muito tempo. Senti o frêmito de seus amores, a solidão implacável de suas angústias, seus espantos noturnos convertidos em palavras andarilhas sobre alguma folha ou dorso disponível. Embebedei-me do furor alheio, admirei belezas estrangeiras como um exilado febril de ausência, toquei corpos incandescentes e senti os dedos gélidos, pois as mãos não eram minhas e o calor não se emanava por mim. Peregrinei insone em olhares fugitivos, habitei miragens e cantei elegias. Da poesia fiz expurgo, exorcismo vil, cárcere, alcova vazia... Sensatez infame! Embriaguem-se as palavras, dancem despudoradas, que os versos tropecem na verborragia úmida dos beijos. Deixai a beleza incólume crispar de desejo o mármore. Entregar-me-ei ao flagelo do efêmero. Sorverei o odor primaveril e acariciarei a textura outonal das peles que sobre a minha descansarem. E não encontrarei repouso senão entre versos moldados em corpos.</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-30534682370003660582008-09-29T16:54:00.000-07:002009-01-02T14:19:41.778-08:00De volta...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqAUJIXxFGAjbF3FwpSfme4p8VNzPOQSJnPM5_fLl4Gm7Aiat7L07DeBqYLI0jxK9jkRGOzaGrdtinpuWYy_X_0csJs9369TBqtOd5Fkde7BZ4kEJEMljFOJXI457iM9Y1hfQr/s1600-h/chagall05a.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5286824521262784802" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 284px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqAUJIXxFGAjbF3FwpSfme4p8VNzPOQSJnPM5_fLl4Gm7Aiat7L07DeBqYLI0jxK9jkRGOzaGrdtinpuWYy_X_0csJs9369TBqtOd5Fkde7BZ4kEJEMljFOJXI457iM9Y1hfQr/s400/chagall05a.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Retorna-te a ti mesmo. Conhecer-se é desnecessário, inócuo, mero claustro de convicções e certezas malemolentes, dóceis à piedade, ao enfado, à apatia. Estar consigo: eis o exercício mais visceral. Contemplar-se entricheirado em conceitos, aninhado em filosofia estrangeiras, absorto em transes psicanalíticos ou feito peso em corpos e dores alheias nada mais é do que ocultar-se de si, ver-se como um objeto, algo colocado sob uma placa pétrea, um vaso de raridade intocável, cuja textura jamais sentiremos. Conhecemos cadáveres, histórias, deuses. O que está vivo não se submete às certezas. O que vive baila, tripudia, sucumbe, fenece, passa.. Habita-te. </div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-82244609795269592212008-06-19T18:12:00.000-07:002008-12-09T05:24:36.657-08:00Alma<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAB5AKS2EHFf00KvKLIK8T8wX6K3vBdGpffhPXL7XCPdLjlsNL2Mo8-0EH-4_p-0PKdJLG1p58gzTvRjqDp1rtzLqXZzHJM41EbuTHGsVTXOQUPelhSJIPHS8oPVEnhdySgF4O/s1600-h/G.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5213776285073237058" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAB5AKS2EHFf00KvKLIK8T8wX6K3vBdGpffhPXL7XCPdLjlsNL2Mo8-0EH-4_p-0PKdJLG1p58gzTvRjqDp1rtzLqXZzHJM41EbuTHGsVTXOQUPelhSJIPHS8oPVEnhdySgF4O/s400/G.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">O argentino, Jorge Luis Borges, afirma que a essência da metafísica é o assombro, o phatos originário da filosofia, quiçá do humano. Sob a licença de tal definição, permito-me uma confissão, literal e poeticamente, assombrada. Sinceramente não creio ser possuidor de uma alma, uma centelha divina e eterna, encarcerada ou simplesmente submetida à precariedade da morada corpórea. Porém, estou certo de que há em nós um sopro, imanente, intenso, emanado de nossas entranhas, tão nosso que não pode, senão, constituir-se a própria transcenência. Quando esse hálito quente cessa tornamo-nos menos do que fantasmas. Perambulamos conscientes de nossa indiginidade, todavia impotentes. Pairamos no ar diferentemente da folha reclamada pelo vento, pois esta fastia-se na queda, enamorada pela última valsa nos ares. Até os mortos que dançam regozijam-se com a humana tragédia do fim, experimentando a vida já indiferente aos recalques e pudores. Em meio à turba em transe, vertiginada pela indistinção, caminhei solitário e consciente, incapaz de respirar e mesmo assim inutilmente vivo. Não há perdão que possa em alcançar agora...</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-52340171814647010802008-05-27T16:40:00.000-07:002008-12-09T05:24:36.806-08:00Ocultos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdIKijFxvJ_F-D53MkgS_3P93GqzPFL7k-fY-DE0X90kNW1y-3b-hZ8vngDM4qRzgD0aRAVcWY17R5z-gX3Iy2KbZ_xKAGaiy9QKiqrLO6jIaIupkrnwER8g63KrjXypjXeh6L/s1600-h/munch_madonna.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5205223222236402946" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdIKijFxvJ_F-D53MkgS_3P93GqzPFL7k-fY-DE0X90kNW1y-3b-hZ8vngDM4qRzgD0aRAVcWY17R5z-gX3Iy2KbZ_xKAGaiy9QKiqrLO6jIaIupkrnwER8g63KrjXypjXeh6L/s400/munch_madonna.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Noite alta. A luz esgueira-se. Pequenas manchas aninham-se nos cantos. Uma a uma as trevas as caçam, envolvem, consomem. Restam apenas luminescências domadas e entregues, prostituídas em sombras, em cujos gemidos contidos concentram-se olhos insones, entretidos com a sutil promiscuidade desses enamorados extremos. Ao oriente do leito um corpo ronrona suave. Sem formas aparentes ou lembranças ainda mornas que o tornem inconfundível, ele ondula na escuridão. Sua respiração adensa o ambiente. Oculto em aminésia noturna, o rosto ausente, recém beijado, o corpo ainda crispado pelos dentes que lhe colheram a flor da pele, o nome que se perdeu no desejo denunciam o dia eminente. Quem é ele? Ora, mais um corpo ao oriente do desejo. O que não se sabe mais é quem está no oposto hemisfério da pergunta, torcendo para que a luz continue restrita aos caprichos da noite.</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-74993637894441229872008-05-24T16:47:00.000-07:002008-12-09T05:24:36.923-08:00Melancolia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhqWLDLaLX3rK4QeIBtPjBKLtuYL_OaSgr5Mo-kuypr6FIq3MVYiBbAv1TLJJHLJsxrKVCzTNxaviCQmjhm9XqnX57ZYbCIlCVmXodC7DeD_wYeWAIcvDxW6n87bNpfnyki4H9/s1600-h/schiele4.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5204118977554666738" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhqWLDLaLX3rK4QeIBtPjBKLtuYL_OaSgr5Mo-kuypr6FIq3MVYiBbAv1TLJJHLJsxrKVCzTNxaviCQmjhm9XqnX57ZYbCIlCVmXodC7DeD_wYeWAIcvDxW6n87bNpfnyki4H9/s400/schiele4.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">A melancolia é um refúgio precioso. Às vezes traveste de elevação o que é pura mediocridade. Adorna o óbvio fazendo-o passar por singularidade, a tibieza converte em arte. Alguns dirão, por exemplo, que os poetas são seres melancólicos, cindidos do cotidiano por um desejo de existir exasperado e exasperante, tão demasiado viventes que a maioria de nós, andarilhos moribundos, somente pode vê-los como espíritos obscuros, aos quais precisamos imputar a tristeza, o pesar, pois, do contrário, como suportar nossa maltrapilha felicidade? Certamente os poetas são melancólicos. Diria eu que por respeito ou luto por nosso entusiasmo calculado, pela infame soberba que nos mantém aquém da vida, enquanto eles estão absortos em <em>amor fati, </em>lançados à relva sobre o torso de Dionísio ou adormecidos gentilmente nos ombros de Apolo. Aos filósofos também cai bem a alcunha da melancolia, agravada pela ausência premeditada da realidade. Enquanto ao poeta dedica-se a compaixão, aos pensadores reservamos a distância da anedota. É mais seguro guardá-los trôpegos, com os olhos feridos pela poeira e os pés cambalentes no ar. Afinal, estamos tão enraizados que perdemos a capacidade das alturas, embora nos açoite o desejo por elas. Acovardados, prefirimos exorcizar as lonjuras a correr seus riscos e perdas. Àqueles que se aventuram pelas angústias da razão empurramo-lhes a melancolia, os guardarmos seguros no riso para que não ousem revelarem a nós a inapelável tristeza que nos devora tácita. </div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-64653588635060280612008-02-10T16:54:00.000-08:002008-02-10T17:15:42.601-08:00<a href="http://pwp.netcabo.pt/0167210901/quadros/gauguin.spirit-dead-watching.jpeg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://pwp.netcabo.pt/0167210901/quadros/gauguin.spirit-dead-watching.jpeg" border="0" /></a><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">"Adormece ao seu lado, sinta seu hálito". Bons conselhos são como apelos à memória. Palavras incômodas que nos forçam a fazer turismo dentro de nós mesmos (lembro-me de uma tira da Mafalda nesse momento). Idéias novas não seduzem. Demoram a penetrar. Quando enfim o fazem, a aceitação é tão lenta quanta a cicatrização das feridas inflingidas em nossas estimadas visões de mundo. Conselhos eficientes são como segredos violados: julgávamos tê-los tão ocultos que ficamos estarrecidos ao percebê-los conhecidos, e pior, ditos sem misérias ou adulações por uma língua estranha e insubmissa. Como ela ousa saber-me? Como estou mais nela do que em mim mesmo? E as memórias violadas se oferecem como corpos despudorados, sinceros de desejo sobre alguma cama improvisada, quando a queríamos recatadas. Adormecerei hoje com esse hálito como companhia...</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-41841491593664079162007-11-20T09:17:00.000-08:002008-12-09T05:24:37.186-08:00Distante...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqvdIdUa8Fbfh6o-46p-asVW_upmVjVDl6v5XaXB6S-dkEOjE89TDNUKA7ydHkWwmVH5qdTiJIrJvn8WNNWGYSQLBfQSaYhi-XHX6lIOUBhVp3IBWVZS5L6kBAddp_7gOSEfOI/s1600-h/miro1173g.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5134990100243898338" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqvdIdUa8Fbfh6o-46p-asVW_upmVjVDl6v5XaXB6S-dkEOjE89TDNUKA7ydHkWwmVH5qdTiJIrJvn8WNNWGYSQLBfQSaYhi-XHX6lIOUBhVp3IBWVZS5L6kBAddp_7gOSEfOI/s400/miro1173g.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Fiquei longe daqui por um bom tempo. Perdi a Senha, como aquele ser exausto de seu cotidiano esquece-se da fachada do lar em um copo qualquer. Cansei-me de soletrar. Retornei. Preciso de espaço e nada melhor do que essa turba de pensamentos, reflexões, memórias, súplicas, desejos... Quero permanecer aqui por mais tempo. Do mesmo modo como desejo habitar a mim mesmo com mais assiduidade. Pensamos pouco em quão anônimos nos somos. Por vezes não basta o auxílio indiferente de espelhos. Ve-mos como vivemos, isto é, sem existir de fato. Fantasmas. Tanto pelo semblante diáfano, quanto pelo terror que infundimos a nós próprios. Harendt, em sua obra <em>A Condição Humana</em>, chega ao ponto de afirmar que a mesma é tão insuportável, a aflição que nos causa tão lancinante, que passamos boa parte de nossa existência tentando fugir dela. Talvez essa seja o tom do existir humano: fugir, escapar a todo o custo para não ceder à esquizofrenia de uma condição posta aqui e lá. A têmpera é o paradoxo. Mesmo a a limitada compreensão do pensamento platônico enquanto fundamentalmente dualista - está muito mais para ambíguo como diriam Heidegger e outros - baseia-se na constatação necessária de que a condição humana é fundamentalmente cindida. O desejo de vida confrontado com a consciência da morte não é o problema, mas o absurdo como diria Camus. A imaginação, a fantasia que nos distam daqui, do agora, do presente, também não, ao menos <em>a priori</em>. O alheamento de si. Eis o grande mal. Seja em deus, no outro, no mundo... a insuportabilidade da condição humana manifesta-se sob a forma de afastamento de nós mesmos. Como superar? Não quero essa respotsa, prefiro a perpétua tentativa de formular melhor a mesma pergunta...</div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-34652409289130979582007-02-02T15:15:00.000-08:002007-02-02T15:35:02.893-08:00Eu...<a href="http://www.ecodeal.com/images/12556_Guayasamin-Grito-30x40_large.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://www.ecodeal.com/images/12556_Guayasamin-Grito-30x40_large.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:lucida grande;"><span >Eu... Primeira. Pessoa. Ego(latria). Arrogância. Ausência. Multidão. Solidão. Aroma. Destempero. Chuva. Vidraça. Nome. Interrogoção. Dogma. Reticências... Estou com vontade de escrever hoje. Mas as palavras só saem como que regurgitadas por uma máquina antiga, escravizada por dedos indecisos e engrenagens confusas. Cada letra soluçada, estilhaço metálico ribombando seco na garganta. E o maldito "eu" escapando por todas as partes.</span> </span></div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-1169428815905967072007-01-21T17:09:00.000-08:002008-12-09T05:24:37.429-08:00I Congresso de Filosofia em São Thomé das Letras<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdygh8iAGsD8YyxbhDD8haWrMHrwVpQ8Rffkj59naRCSRbakM3TKSMCS0kMRMo26aGsgWBSrNa8rUZc5I4YAzID2973TQYyKg9BNs38dQ2ScKSOtsNu_hno8DIq2sTGcxDz9Hd/s1600-h/cartaz.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5027079141399278002" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdygh8iAGsD8YyxbhDD8haWrMHrwVpQ8Rffkj59naRCSRbakM3TKSMCS0kMRMo26aGsgWBSrNa8rUZc5I4YAzID2973TQYyKg9BNs38dQ2ScKSOtsNu_hno8DIq2sTGcxDz9Hd/s400/cartaz.jpg" border="0" /></a>Estou repetindo a postagem devido a importância e originalidade do evento. E também aproveito para expressar a ligação desse Blog - quase uma paternidade dividida - com o Blog <a href="http://praxisfilosofica.blogspot.com/" target="_blank">http://praxisfilosofica.blogspot.com/</a> do meu grande amigo, irmão, companheiro de destino, de abismos, Alex Rodolfo, a quem devo a frase de Baudelaire que dá nome a esse espaço.<br /><div align="justify">Em seu Blog, além de assuntos e discussões interessantíssimas - altamente engajadas - você encontra mais detalhes sobre o evento.</div></div>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38691218.post-1169427683936713552007-01-21T13:39:00.000-08:002007-01-21T17:01:23.996-08:00Olhar Longínquo...<a href="http://meuslivros.weblog.com.pt/arquivo/olho%20verde.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://meuslivros.weblog.com.pt/arquivo/olho%20verde.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><p align="justify">O grego Aristóteles dizia que o sentido da visão era o que mais dava prazer ao homem, aquele que mais nos apeteceria. Baudelaire imortalizou os olhos do gato como espelhos nos quais encontramo-nos despidos. "E que eu olho para mim mesmo, Eu vejo com olhar demente A luz destas pupilas ralas, Claras fanais, vivas opalas, Que me contemplam fixamente...." Quantas e quantas vezes não buscamos trêmulos em meio a multidão veloz e caótica, cujos rostos se fundem na velocidades dos passos em inexpressivos traços, aquele olhar de punhal que, por um átimo, pefurou-nos a serenidade e voltou para o anonimato qual assassino em fuga? Estáticos buscamos na disciplina militar dos corredores humanos o negro volátil daqueles olhos, porém deparamo-nos com pupilas náufragas em neblina e coladas ao rés do chão. Desesperados abordamos pedaços de tecido moribundos e amladiçoamos os céus pela maldição da eterna presença em fuga que carregaremos em vigília nas horas de monólogo. </p><p align="justify">Costumo ser vítima de olhares com freqüência. Não que os atraia incotestes e pasmos para mim. Antes os obrigo pela insistência promíscua com a qual os fito, os seqüestro, os embaraço. Até mesmo sob a luz cálida de um lupanar, onde os olhares crispados de tinta e de álcool, travestidos de interesse e excitados por ofício, lhe forçam à generosidade perversa da solidão, assassinam-me certos olhares. Tão longíquo, de uma jade ambíguo. Poderia dizê-lo imerso no infinito, ávido de distâncias e paisagens imprescrutáveis. Pensá-lo como de tempestade. Duas centelhas verdes incontidas, tripudiando das mãos que as ignoram e da servidão à qual o corpo está voluntariado. Todavia, aquele olhar longínquo estava exilado na ausência, denunciado que aquela beleza fria havia deixado a alma em alguma gaveta esquecida, protegida dos sorrisos e dos prazeres de outrem. </p>Prof. Carlos Eduardo de Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/18054663171923394727noreply@blogger.com1