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terça-feira, maio 27, 2008

Ocultos


Noite alta. A luz esgueira-se. Pequenas manchas aninham-se nos cantos. Uma a uma as trevas as caçam, envolvem, consomem. Restam apenas luminescências domadas e entregues, prostituídas em sombras, em cujos gemidos contidos concentram-se olhos insones, entretidos com a sutil promiscuidade desses enamorados extremos. Ao oriente do leito um corpo ronrona suave. Sem formas aparentes ou lembranças ainda mornas que o tornem inconfundível, ele ondula na escuridão. Sua respiração adensa o ambiente. Oculto em aminésia noturna, o rosto ausente, recém beijado, o corpo ainda crispado pelos dentes que lhe colheram a flor da pele, o nome que se perdeu no desejo denunciam o dia eminente. Quem é ele? Ora, mais um corpo ao oriente do desejo. O que não se sabe mais é quem está no oposto hemisfério da pergunta, torcendo para que a luz continue restrita aos caprichos da noite.

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