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quinta-feira, julho 14, 2011





Tenho vontade gritar. Algo há muito sufocado em mim que cresce como um câncer que, por mais que me esforce. não consigo deixar de alimentar. Queria ferir minha garganta, rasgar cada ínfimo pedaço da rosácea morada na qual esse sentimento se aninhou. Temo destruir a mim mesmo caso o faça, pois de tão profundo já não reconheço senão através desse pathos. Mas não o faço. Como qualquer humano, não desejo deixar de ser ao mesmo tempo em que o mais quero é ser outro que não eu mesmo. Se eu pudesse ao menos gritar. Sei que nem mesmo a mais mísera e enferma folha caíria; o curso de uma breve gotícula de chuva não mudaria seu trajeto inevitável; as distâncias se manteriam intactas e o motivo desse meu berro contido com a paga de séculos de mim ainda se manteria indiferente... Ao final consigo perceber melhor. A escrita não deixa de ser uma catarse - em termos filosóficos, ao modo aristotélico. Há sempre uma revelação intrasigente e incômoda que nos lembre que até mesmo o mais pequeno dos textos está fadado ao infinito, a se projetar como além, como longínquo, como devir constante. Todo texto é infindo e eterno. Nele nos multiplicamos e nos percebemos como somos: fogo que crepita e cujo existir exige o findar. Vejo agora que é a ausência de fúria em meu grito empedernido que me dói acima de tudo. O desejo de destruição, de guerra, de mágoa em estágio de transmutação em ira. Acho que falte o ímpeto de rasgar retratos, estilhaçar cristais, esfoliar a pele até que nasça uma nova, virginal, incólume aos amores e desamores que se foram... Talvez me falta a capacidade do auto-engano, o ofício do ator que é quando se disfarça a ponto de esquecer que seu rosto é máscara.

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