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domingo, janeiro 21, 2007

Anônimo...


Imagino ouvidos atentos nos quais eu veteria um falatório tirânico, verborrágigo, sangria de profundezas escavadas ao longo de uma vida empertigada em silêncio consentido, amordaçado, tímido. Palavrório fantástico para ouvintes fantásticos. Em ouvidos cálidos, dos quais respingam madeixas, faria entrar, serpenteante e despudorado, um hálito de balbucios, de redemoinhos tácitos, linguagem de calafrios. Calaria os receios vãos na penugem ouriçada de dourado que ornamentam aqueles que são reais.Imagino olhos benevolentes aos quais imporia a verve emperdinada das posturas altivas, vestidas de arrogância sob a qual tremula o pavor, obrigando-os à contemplação subalterna. Atitude etérea para olhares etéreos. Em cílios de cetim repousaria o cenho corrompido de seriedade, aninharia os sonhos em suas curvas encimesmadas, reclinaria os anseios e deixa-los-ia purgar em lágrimas. Nesses olhos fendidos de maestria, onde se outoniza a cerejeira, desnudaria-me de mim mesmo. Anônimo, porém, permaneço cativo desses olhos de sol nascente.

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