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domingo, janeiro 21, 2007

Oráculo



"É para conhecer a si mesmo que é preciso dobrar-se sobre si; é para conhecer-se a si mesmo que é preciso desligar-se das sensações que nos iludem; é para conhecer-se a si mesmo que é preciso estabelecer a alma em uma fixidez imóvel que a desvincula de todos os acontecimentos exteriores. É, ao mesmo tempo, para conhecer-se a si mesmo que tudo isso deve e pode ser feito" (FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. 2004, p. 96).

Essa citação foi extraída de uma célebre obra de Foucault por um amigo meu de nome Luiz Henrique. Trata-se do desenvolvimento de seu trabalho de conclusão do curso de Filosofia, no qual ele aborda a temática do Óraculo de Delfos visando o resgaste de seu sentido existencial e não meramente racional. Tomo como base a reflexão empreendida por esse meu amigo para, com ele e com Foucault, compreender o que significa, de fato, cuidar de si mesmo.
Aprendi a desconfiar de conceitos prontos e opinições de prateleira. É claro que eles têm seus usos. São muitos úteis. Mas não agora. Refiro-me àquela convicção tacitamente generalizada de que habitamos uma época de degradação espiritual, moral - quem deseja a retidão nesse sentido? -, enfim, humana. Dizem-nos banais, efêmeros, iconoclastas. Paisagens sem horizontes a não ser os postos ao alcance imediato nos olhos - os melhores na minha opinião, mas isso não vem ao caso, por enquanto. Sem perceber acabamos concordando com tais fetiches e passamos a viver despossuídos de apreço pelas circunstâncias que são nossas e nós delas. Invertemos a relação essencial do cuidado, isto é, o sujeito que é capaz dele à revelia da situação à qual está consignado. Afinal, se cuidar de si implica em conversão do olhar, não podemos nos esquecer que o pressuposto são os olhos e não aquilo que os rodeia.

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