terça-feira, novembro 20, 2007
Distante...
sexta-feira, fevereiro 02, 2007
Eu...
domingo, janeiro 21, 2007
I Congresso de Filosofia em São Thomé das Letras
Olhar Longínquo...
O grego Aristóteles dizia que o sentido da visão era o que mais dava prazer ao homem, aquele que mais nos apeteceria. Baudelaire imortalizou os olhos do gato como espelhos nos quais encontramo-nos despidos. "E que eu olho para mim mesmo, Eu vejo com olhar demente A luz destas pupilas ralas, Claras fanais, vivas opalas, Que me contemplam fixamente...." Quantas e quantas vezes não buscamos trêmulos em meio a multidão veloz e caótica, cujos rostos se fundem na velocidades dos passos em inexpressivos traços, aquele olhar de punhal que, por um átimo, pefurou-nos a serenidade e voltou para o anonimato qual assassino em fuga? Estáticos buscamos na disciplina militar dos corredores humanos o negro volátil daqueles olhos, porém deparamo-nos com pupilas náufragas em neblina e coladas ao rés do chão. Desesperados abordamos pedaços de tecido moribundos e amladiçoamos os céus pela maldição da eterna presença em fuga que carregaremos em vigília nas horas de monólogo.
Costumo ser vítima de olhares com freqüência. Não que os atraia incotestes e pasmos para mim. Antes os obrigo pela insistência promíscua com a qual os fito, os seqüestro, os embaraço. Até mesmo sob a luz cálida de um lupanar, onde os olhares crispados de tinta e de álcool, travestidos de interesse e excitados por ofício, lhe forçam à generosidade perversa da solidão, assassinam-me certos olhares. Tão longíquo, de uma jade ambíguo. Poderia dizê-lo imerso no infinito, ávido de distâncias e paisagens imprescrutáveis. Pensá-lo como de tempestade. Duas centelhas verdes incontidas, tripudiando das mãos que as ignoram e da servidão à qual o corpo está voluntariado. Todavia, aquele olhar longínquo estava exilado na ausência, denunciado que aquela beleza fria havia deixado a alma em alguma gaveta esquecida, protegida dos sorrisos e dos prazeres de outrem.
Esquecimento...
Por ventura a técnica prodigiosa sintetizou alguma substância capaz de tapar os buracos com os quais minamos o tempo? Será que alguma religião recebeu do eterno liturgia pungente o bastante para comover aqueles que esquecemos, e dos quais, agora, mendigamos tolerância? A filosofia terá nos ofertado a palavra que esmorecerá a certeza da ausência, ludibriando com estratagemas lógicos as horas solitárias passadas cortejando-se a espera? Será que aqueles aos quais canto essa elegia lembrar-se-ão ou quererão ouví-la?
Esquecimento...
Anônimo...
Imagino ouvidos atentos nos quais eu veteria um falatório tirânico, verborrágigo, sangria de profundezas escavadas ao longo de uma vida empertigada em silêncio consentido, amordaçado, tímido. Palavrório fantástico para ouvintes fantásticos. Em ouvidos cálidos, dos quais respingam madeixas, faria entrar, serpenteante e despudorado, um hálito de balbucios, de redemoinhos tácitos, linguagem de calafrios. Calaria os receios vãos na penugem ouriçada de dourado que ornamentam aqueles que são reais.Imagino olhos benevolentes aos quais imporia a verve emperdinada das posturas altivas, vestidas de arrogância sob a qual tremula o pavor, obrigando-os à contemplação subalterna. Atitude etérea para olhares etéreos. Em cílios de cetim repousaria o cenho corrompido de seriedade, aninharia os sonhos em suas curvas encimesmadas, reclinaria os anseios e deixa-los-ia purgar em lágrimas. Nesses olhos fendidos de maestria, onde se outoniza a cerejeira, desnudaria-me de mim mesmo. Anônimo, porém, permaneço cativo desses olhos de sol nascente.
Noites...
As noites são mulheres cujo recato é uma aparência sóbria e instigante. Assemlham-se àqueles corpos que impõem a sutil malícia de pequenos continentes de pele habilmente distraídos a escapar sorrateiros do tecido negro que os encobre para adocicá-los de curiosidade.
Sinto o perfume dessa dama deslizar pela janela e vejo seus tornozelos desnudos saltinando por debaixo do firmamento ruborizado de estrelas. Mas seus olhos, a, seus olhos, esses não tenho a ousadia de mirar.
Ecos...
Noite propícia para se falar sobre isso. Certa voz insiste em me recordar tais coisas. Um ronronar cujo hálito de tempestade não transgride a calma de meus pêlos, mas cuja presença teima em desafiar a ausência que lhe imputei tremendo. Essa noite é dela. Talvez, pela amanhã, ela passe por aqui desavisada e saiba que estou farto da condição de semeador de distâncias.
Insuportavelmente leve...
Oráculo
Essa citação foi extraída de uma célebre obra de Foucault por um amigo meu de nome Luiz Henrique. Trata-se do desenvolvimento de seu trabalho de conclusão do curso de Filosofia, no qual ele aborda a temática do Óraculo de Delfos visando o resgaste de seu sentido existencial e não meramente racional. Tomo como base a reflexão empreendida por esse meu amigo para, com ele e com Foucault, compreender o que significa, de fato, cuidar de si mesmo.
Aprendi a desconfiar de conceitos prontos e opinições de prateleira. É claro que eles têm seus usos. São muitos úteis. Mas não agora. Refiro-me àquela convicção tacitamente generalizada de que habitamos uma época de degradação espiritual, moral - quem deseja a retidão nesse sentido? -, enfim, humana. Dizem-nos banais, efêmeros, iconoclastas. Paisagens sem horizontes a não ser os postos ao alcance imediato nos olhos - os melhores na minha opinião, mas isso não vem ao caso, por enquanto. Sem perceber acabamos concordando com tais fetiches e passamos a viver despossuídos de apreço pelas circunstâncias que são nossas e nós delas. Invertemos a relação essencial do cuidado, isto é, o sujeito que é capaz dele à revelia da situação à qual está consignado. Afinal, se cuidar de si implica em conversão do olhar, não podemos nos esquecer que o pressuposto são os olhos e não aquilo que os rodeia.